#001 A roupa como desculpa
- Paula Rafaela

- 29 de jul.
- 2 min de leitura
Foi dentro da academia que construí a visão de que moda é uma ferramenta de expressão. Não que eu ache que seja preciso cursar uma universidade pra isso — mas, no meu caso, foi. Cresci no interior, e minha relação com a roupa era outra.
Antes de estudar moda, eu entendia o vestir como algo divertido, que passava por estar adequada às situações e receber elogios. Pra mim, um bom look era aquele que levava alguém a dizer que eu estava bonita.
Algum problema com isso? Absolutamente nenhum — sobretudo se essa é a sua vontade. Aliás, continuo adorando receber elogios.
A diferença é que, antes, eu pensava no que vestir tendo como referência o olhar do outro. Hoje, sinto que adapto o dress code à minha personalidade.

Foi daí que veio o meu entendimento de expressão.No meu caso, procuro sempre burlar um código — ainda que de maneira sutil.
Porque não tem elogio maior pra mim do que despertar interesse suficiente pra gerar uma conversa. E a roupa é uma ótima desculpa pra isso.
Sinto que preciso provocar um pouco mais. Porque “bonita” é um lugar comum — sobretudo quando falamos de mulheres. No fundo, os ideais de beleza estão sempre nos empurrando para o lugar de um corpo disciplinado. E não um disciplinado por escolha, mas um disciplinado pelo controle — imposto pra sermos minimamente aceitas.
Dia desses, um senhor 60+ me abordou na fila do chop pra perguntar se minha jaqueta era original dos anos 80 ou uma releitura. Enquanto a fila andava, conversamos sobre estilo, moda e gerações.
A peça de paetê estava brilhando num boteco da Cidade Baixa. Em teoria, um exagero para a ocasião. Mas exagero pra quem? Pra mim, não. Se eu estivesse com um blazer de alfaiataria ou mesmo uma jaqueta jeans, aquele papo não teria rolado.
Logo, pra mim, "bonita" é um conceito que passa por interessância.
Hoje, ouvir que estou bonita ainda é bom — mas o que eu adoro mesmo é ouvir:
“Nossa, nunca pensei nisso.” “Que interessante!” “Você é muito didática.” “Que estilosa.” “Que diferente!”
Esse sentimento veio, admito, com certa maturidade. Quando entendi que estilo pessoal é uma gangorra em eterna negociação entre o coletivo e a afirmação de quem somos.
A gente se veste todos os dias — gostando ou não. Como diz Daniel Miller: nossas roupas fazem de nós quem pensamos ser — e isso não é superficial.

Você pode sair de casa com uma camiseta com uma frase em outra língua e não dar a menor importância… mas isso não te exime de estar repassando a mensagem.
Ao se vestir todas as manhãs, você está contando algo — mesmo que não esteja consciente disso. Entendi, então, que pra mim seria mais inteligente fazer isso com intenção.
Se você chegou até aqui e gostou da conversa, deixa seu e-mail — quero te mandar as próximas!
Até breve..

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