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#001 A roupa como desculpa

Foi dentro da academia que construí a visão de que moda é uma ferramenta de expressão. Não que eu ache que seja preciso cursar uma universidade pra isso — mas, no meu caso, foi. Cresci no interior, e minha relação com a roupa era outra.

Antes de estudar moda, eu entendia o vestir como algo divertido, que passava por estar adequada às situações e receber elogios. Pra mim, um bom look era aquele que levava alguém a dizer que eu estava bonita.


Algum problema com isso? Absolutamente nenhum — sobretudo se essa é a sua vontade. Aliás, continuo adorando receber elogios.

A diferença é que, antes, eu pensava no que vestir tendo como referência o olhar do outro. Hoje, sinto que adapto o dress code à minha personalidade.


(Viola Davis Met 2023 em homenagem a Karl Lagerfeld)
(Viola Davis Met 2023 em homenagem a Karl Lagerfeld)

Foi daí que veio o meu entendimento de expressão.No meu caso, procuro sempre burlar um código — ainda que de maneira sutil.

Porque não tem elogio maior pra mim do que despertar interesse suficiente pra gerar uma conversa. E a roupa é uma ótima desculpa pra isso.


Sinto que preciso provocar um pouco mais. Porque “bonita” é um lugar comum — sobretudo quando falamos de mulheres. No fundo, os ideais de beleza estão sempre nos empurrando para o lugar de um corpo disciplinado. E não um disciplinado por escolha, mas um disciplinado pelo controle — imposto pra sermos minimamente aceitas.

Dia desses, um senhor 60+ me abordou na fila do chop pra perguntar se minha jaqueta era original dos anos 80 ou uma releitura. Enquanto a fila andava, conversamos sobre estilo, moda e gerações.

A peça de paetê estava brilhando num boteco da Cidade Baixa. Em teoria, um exagero para a ocasião. Mas exagero pra quem? Pra mim, não. Se eu estivesse com um blazer de alfaiataria ou mesmo uma jaqueta jeans, aquele papo não teria rolado.

Logo, pra mim, "bonita" é um conceito que passa por interessância.

Hoje, ouvir que estou bonita ainda é bom — mas o que eu adoro mesmo é ouvir:

“Nossa, nunca pensei nisso.” “Que interessante!” “Você é muito didática.” “Que estilosa.” “Que diferente!”

Esse sentimento veio, admito, com certa maturidade. Quando entendi que estilo pessoal é uma gangorra em eterna negociação entre o coletivo e a afirmação de quem somos.

A gente se veste todos os dias — gostando ou não. Como diz Daniel Miller: nossas roupas fazem de nós quem pensamos ser — e isso não é superficial.


(women does not have to be modest in order to be respect) 
(women does not have to be modest in order to be respect) 

Você pode sair de casa com uma camiseta com uma frase em outra língua e não dar a menor importância… mas isso não te exime de estar repassando a mensagem.

Ao se vestir todas as manhãs, você está contando algo — mesmo que não esteja consciente disso. Entendi, então, que pra mim seria mais inteligente fazer isso com intenção.


Se você chegou até aqui e gostou da conversa, deixa seu e-mail — quero te mandar as próximas!

Até breve..

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